Vamos falar de Placenta?

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O QUE É A PLACENTA?
Fonte da Imagem: EverythingBirth

Não se envergonhe querida leitora se você não sabe muito do que se trata esse pedaço de carne. Pesquisas empíricas do Mamatraca mostram que há uma grande confusão entre placenta e a bolsa amniótica. Há quem acredite que o bebê fica dentro da placenta, mas não é bem assim. Aliás não é nada assim!

A placenta é um anexo embrionário que existe apenas na classe de mamíferos Eutheria, ou seja, fora o ornitorrinco e o canguru (e os primos deles), todos nós mamíferos fomos algum dia dependentes de uma. Ela se forma dentro do útero pelos tecidos do óvulo e através dela o feto respira e se enche de nutrientes através da difusão do sangue materno pelo cordão umbilical. É o único órgão do corpo mamífero que nasce, cresce e tem seu fim, acompanhando a gestação do bebê que alimenta.

A placenta protege também o bebê, como um filtro, e atua como um órgão endócrino, produzindo hormônios fundamentais para a sustentação da gravidez. Sua posição, em geral superior, ou seja, alojada na parte de cima do útero, pode ser motivo de problemas, em raros casos. As famosas placentas prévias são a única indicação absoluta de cirurgia cesariana para mulheres fora de trabalho de parto, uma vez que esse importante órgão, nessa condição, alojado na saída do útero, impede a passagem do bebê. Existem outros casos relacionados à placenta que podem também prejudicar a gravidez, como descolamentos, inserção anormal do cordão umbilical e outras complicações. Tudo isso para contar que sim! A placenta é um órgão importante pacas.
Fonte da Imagem: Proyecto-Bebe


Assim que nasce o bebê, a placenta ainda ligada ao corpo da mãe, garante o aporte de oxigênio necessário para o rebento - que respira com seus próprios pulmões pela primeira vez - e ainda faz o favor de devolver à ele todo sangue a que tem direito. Por isso a prática recomendada , e hoje já comprovada - de clampear o cordão umbilical somente quando ele para de pulsar protege o bebê de anemia.

Descolada das paredes do útero, depois do bebê, nasce também a placenta. Em uma cirurgia, ela é removida pelo médico, que deve garantir que nenhum pedaço fique retido, sob risco de infecção. Em um parto vaginal, em especial natural, a placenta nasce pelas contrações do útero, normalmente pouco depois do bebê, e com direito a dorzinha e tudo.

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POR QUE TEM GENTE QUE COME PLACENTA?

Fonte da imagem: Heal Thy Self

A placentofagia ocorre no mudo mamífero, simples assim. A maioria dos mamíferos (em ambiente natural, não vale dizer que sua cachorrinha não comeu) consome a placenta após o parto, com exceção dos camelos e alguns tipos de mamíferos marinhos, inclusive os vegetarianos. O que de cara dissocia a placentofagia da alimentação per se - não é uma prática exclusivamente alimentar. As macacas, nossas primas distantes, também comem placenta. Estando a raça humana mais próxima dos macacos do que dos camelos, não é tão espantoso assim que existam também pessoas que curiosamente ou com muita certeza na tradição, queiram provar a iguaria!

Há quem defenda a ideia de que isso é um ato instintivo para esconder rastros da cria dentro da natureza selvagem e proteger o filhote de predadores. Enquanto outras correntes defendem que a placenta, rica em hormônios e lipídios, seria responsável por nutrir a mãe, devolvendo-lhe energia após a saga transcendental do parto, ajudando na contração uterina, produção de leite e promovendo bem estar. A esmagadora maioria da classe médica, e portanto as pesquisas científicas sobre o tema, insiste que não existem evidências comprovadas sobre esses efeitos. No entanto, nas culturas ancestrais em todas as partes do mundo, dos confins do Vietnam às montanhas da Bolívia, a placentofagia e demais rituais ligados à placenta, tem justificativa além da científica, de ordem espiritual e holística, simbolizando a vida, o respeito ao fim da gestação, e a celebração pela saúde do feto que ela alimentou.

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COMER PLACENTA É MODA?

 
Fonte da Imagem: Bootiful Bumps
É tão moda como usar carregadores de pano, ou amamentar em livre demanda. Está certo, que na penumbra do século XX poucos de nós ouvimos falar sobre isso. Afinal, na cultura ocidental a placenta é encarada como nada mais do que resto de parto. Portanto, parece que inventaram só agora essa história de comer placenta. Colocando perspectiva nas coisas, em que moda é uma inovação passageira, e atentando ao fato de que as civilizações ancestrais sempre promoveram os rituais ligados à placenta, moda é, na verdade, jogar a placenta no lixo. Comer placenta é mais velho que andar para frente.

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O QUE DIZEM OS "ESPECIALISTAS"?
Fonte da Imagem: Bem Estar

Vai depender muito do tipo de especialista que a gente quiser ouvir. Em sua maioria, a classe médica envolvida com o modelo de atendimento obstétrico vigente, vai dizer que essa história de comer placenta é uma grande bobagem e que não existem pesquisas que comprovem. Que um bifão de picanha supriria o aporte de ferro. E que os estudos não comprovam nada. Mas quem está envolvido na especificidade do tema, por exemplo, uma empresa certificada de Portland, que oferece o serviço de encapsulagem da placenta processada para consumo no puerpério, dá uma resposta diferente: "Os humanos pararam de consumir carne crua há muitos milênios. Desde então, os chineses desenvolveram formas de cozinhar a placenta para facilitar a digestão. Nós fomos adiante, hoje é possível colocá-las em cápsulas, e a mãe as consome como vitaminas. Minhas clientes reportam menos baby-blues, recuperação mais rápida, aumento expressivo na produção de leite e muitos outros benefícios. Especialmente aquelas que podem comparar: mulheres com mais de um filho que não consumiram essas vitaminas em um puerpério anterior".

Como em todos os casos, há especialistas que dizem de tudo.

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O QUE DIZEM AS MULHERES QUE JÁ COMERAM PLACENTA?

Segurem-se nas suas cadeiras: todas as mulheres que eu entrevistei gostaram, e muito, da experiência. Vou contar aqui minha mecânica refinadíssima: perguntei no meu facebook pessoal se alguém topava dar um depoimento, e garanti que preservaria a identidade (para fins de proteger as pessoas dos ataques de preconceito que cercam esse tema). Eis que mais de 40 mensagens pipocaram na minha caixa. Eu comi! Eu bati no açaí! Minha irmã comeu! Eu comi a da minha irmã! E mais: ninguém se importa que seus nomes sejam revelados!

Fui desenrolando o assunto com algumas delas, que me narraram experiências mais do que interessantes: "Comi porque havia pesquisado que os hormônios, sobretudo a ocitocina, presentes na placenta ajudavam o útero a reestabelecer-se ou voltarem ao tamanho normal. Quando eu acabei de parir a enfermeira-parteira tirou um pedacinho e colocou na minha boca. Para comparar: o mais próximo alimento que eu conheço é o shimeji cru, algo meio terroso, ocre." Conta Nayana Caetano, que também comeu um pedacinho da placenta no pós parto do segundo filho, sob olhares tortos da obstetra que a atendia. "No terceiro filho, esqueci de pedir para o médico. Me arrependo até hoje."

Já Mariana Andrade, fez a linha espírito-livre: "Comi de curiosa. Fiz um curso sobre as propriedades da placenta quando estava com 37 semanas, e no parto surgiu a oportunidade de experimentar. Comi fritinha, picadinha e temperadinha. O gosto é diferente de tudo, lembra um pouco a carne de fígado, só que mais fibroso". Mariana explica ainda que a placenta era temperada com alho, e não se inibe ao recordar: "agora me deu água na boca".

As motivações para a placentofagia circulam as supostas (de acordo com a medicina tradicional) e comprovadas (de acordo com a experiência dessas mulheres) propriedades biológicas desse incrível anexo embrionário. Mas muitas mulheres narram também motivações de ordem ritualística: "Considero a placenta um orgão sagrado que protegeu, nutriu e deu vida ao meu filho durante 9 meses. Faz parte do ritual de finalização do parto, todos que estiveram presentes ingerirem um pedacinho de placenta como forma de gratidão e reverência. Até meu pai comeu um pedaço." Conta Roberta Lotti que após o parto de seu filho, teve uma breve hemorragia. De acordo com Roberta, a ingestão de mais alguns pedacinhos da placenta foi o suficiente para o estanque quase imediato. "Ela tem propriedades medicinais e é um poderoso anti-hemorrágico". 
Fonte da Imagem: Insert Eye Roll


Não é só na base do alho frito, ou crua como um sashimi, que as placentas andam circulando no universo do pós parto contemporâneo. Uyara Queiroz conta que comeu um pedacinho, cru e com shoyu imediatamente após o parto.  No dia seguinte, liquidificou um suco de frutas. "Nem senti o gosto, mas me senti muito bem, muito diferente do primeiro parto".

Essa é uma das partes mais curiosas. A maioria das entrevistadas pode comparar um pós parto à outro, com e sem ingestão da placenta. E foram unânimes ao afirmar: "me senti melhor".

"Tenho três filhos. Tive um baby-blues violento na chegada do primeiro, quando não ingeri a placenta. No segundo, nauseei quando engoli alguns pedacinhos crus. Já no terceiro, bati com açaí e morango, nem senti o gosto. Esses dois pós partos foram excelentes, e eu atribuo não só à ingestão da placenta, mas também ao fato de terem sido partos domiciliares", conta a Carolina Martins, trazendo luz à questão do modelo de atendimento ao parto e sua relação com o que sentimos no pós parto.

Pós parto: um tempo-lugar sabidamente delicado para as mulheres. Além de toda a readaptação do corpo às novas funções biológicas, existem muitas questões de outras ordens acontecendo ao mesmo tempo. A saudade da gravidez, a interação com o novo bebê, privação de sono, lactância ou às vezes dificuldades na amamentação, tudo orquestrado para levar uma mulher à beira da loucura. Mas as placentófagas afirmam que tudo isso pode estar relacionado ao ato abandonado de ingerir a própria placenta após o parto: "Se o hábito de comer placenta fosse preservado na espécie humana como é para todos os mamíferos, o puerpério seria diferente para as mulheres", explica Uyara, "mas faltam pesquisas sérias sobre o tema", lamenta.

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NÃO CURTO SASHIMI, DETESTO FRITURA, MAS QUERO TUDO DE BOM QUE A PLACENTA OFERECE? O QUE FAZER?
 
Fonte da Imagem: Natural Beginnings

Hoje, tão comum quanto engolir o picadinho de carne é transformá-lo em cápsulas, de diversas formas, administradas durante o puerpério como complexo vitamínico. Alguns profissionais fazem isso cozinhando a placenta com ervas ou usando outras práticas para reduzí-la à pó.

"Eu tomei cápsula de placenta nos 2 meses que se seguiram após o nascimento da Constança," narra Luiza Diener, "se é comprovado ou não, eu não sei". Guardando diferenças entre os dois bebês e o contexto em que chegaram, Luiza conta que no primeiro filho tinha um apartamento menor e somente uma cria para olhar, "mas eu vivia caindo pelos cantos". Com a ingestão das cápsulas na chegada da segunda filha, que era um bebê ainda mais ativo e demandava mais cuidados do que o primeiro, sentia-se "uma bala!", mesmo morando em um apartamento maior, e executando todas as tarefas que as mães de dois filhos pequenos conseguem imaginar, "fazia almoço, bolo pro lanche, tudo com a bebê no sling e o mais velho me ajudando. Lavava a louça, arrumava a casa, levava menino no parquinho e vivia com a pequena pendurada no sling. Não consigo atribuir essa energia a outra coisa que não à placenta".

Nesse momento, essa exausta mãe que vos fala começa a cogitar tomar cápsula de placenta de alguma amiga. Alguém? Na onda da brincadeira, a Mariana adiciona "estou pensando em atender partos como doula voluntária, em troca da placenta para eu comer". Se isso rolar, Mariana, me liga!

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MAS...E O QUE O TOM CRUISE TEM À VER COM ISSO?

Fonte da Imagem: Bijoux Bliss
Aqui está um pouco do porque a placentofagia é confundida com moda. Bastou que uma celebridade - como a bela Gisele - colocasse um colar de âmbar no pescoço da filha, que veja só: ele virou moda. ÂMBAR: uma coisa que tem no mundo desde a época dos dinossauros, vocês viram no Jurassic Park, nem preciso de especialista para fazer meu ponto.

E assim foi com o ex-galã Cruise, sob as tradições da cientologia, (coisa sobre a qual eu não me arrisco nem de longe a escrever, muito embora me cause - como tudo - curiosidade) saiu contando aos quatro ventos que comeria a placenta da mulher, na ocasião do nascimento do ícone-fashion-infantil, a pequena Suri. E depois foi a vez da Kim Kardashian, no alto do seus nove meses de gravidez e salto agulha de acrílico, falar também de suas ambições sobre a iguaria mamífera. Alanis Morissete amamentando criança andando, aprincesa Kate parindo naturalmente, a eterna Blossom Mayim Bialik escrevendo sobre criação por apego - quando uma celebridade levanta a bola de qualquer coisa - mesmo que seja uma tradição da idade da pedra - é comum que logo seja tratado como "moda". Acho bom, coloca os assuntos na pauta.

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O QUE OS HOSPITAIS FAZEM COM A PLACENTA DEPOIS DOS PARTOS?

Lixo. Junto com as gazes, restos e outros ítens tão desprezíveis que devam ser incinerados e tratados como despejo. Não é de se surpreender que as pessoas - que começam a enxergar a placenta sob a ótica da geração da vida, que vêem nela a magia da criação tenham começado a se movimentar em torno de rituais mais respeitosos do que um saco preto.

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POR QUE TANTA GENTE SENTE NOJO REPULSIVO DA PRÓPRIA PLACENTA E DA PLACENTA ALHEIA?

Fonte da Imagem: Ilumikniti Design
Aqui vai uma opinião pessoal, e se a sua é diferente, há sempre a caixa de comentários: porque estamos desconectados de nossas essências femininas. Não é só a placenta que é encarada como coisa nojenta. Muito daquilo que se refere às zonas de fertilidade e prazer feminino são tidas como nojentas. Recentemente, uma sorveteria inglesa lançou o sabor: leite materno. É quase imediato! Eca!! Que nojo!! Vou tomar leite de gente? Minha amiga, a gente toma sorvete de leite de vaca, um ruminante bem fedido que pisa no próprio cocô (e também come placenta).

Menstruação! Quando artistas-ativistas do movimento feminista começaram a fazer trabalhos com seu sangue menstrual, a reação de eca-nojo foi também inevitável. Enquanto em muitas e muitas culturas, o culto ao sangue menstrual permanece, como forma de reconexão da mulher com seu próprio corpo e ciclos vitais, coisa essa impulsionada pela "moda" dos coletores menstruais. Parece que tudo que vem da mulher, em sua plena potência de procriadora, criadora e dona de seu próprio corpo tem lugar certo: rápido, para o lixo! Menstruação é sujo, leite humano é sujo, parto é sujo e deusmelivre placenta.

Claro que ninguém é obrigado a comer nada, nem honrar nada e todo mundo tem o pleno direito de jogar uma parte sua no lixo, mesmo que ela tenha sido parte fundamental do desenvolvimento pleno daquela nova vidinha, o filho. Mas nojo, não faz sentido. É pura repetição de comportamento da lógica opressora ao corpo da mulher e sua esfera reprodutiva.

"Eu acho que a ideia de comer um orgao humano é meio sinistra pra maioria das pessoas. Parece um ritual antrpofagico, uma coisa de magia negra, sei lá. Mas fundo é preconceito né, Anne? Falta de informacao, conhecimento e respeito pelas escolhas alheias", me disse Roberta, e eu concordo.

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EU NÃO QUERO COMER MINHA PLACENTA, NEM VOU TOMAR CÁPSULAS COISA NENHUMA, MAS GOSTARIA DE REVERENCIÁ-LA, TEM COMO?
Fonte da Imagem: Rogue Mama

Aí que o pessoal com menos apetite criou diversas formas de no mínimo, prestar singelas homenagens para aspecto simbólico da placenta, da conclusão do parto, do nascimento de uma nova vida. Para entender isso, é preciso colocar significado nas coisas. Enquanto algumas mulheres vêem significado nas lembrancinhas de maternidade, por exemplo, outras simplesmente adotam outras práticas. Ou adotam várias práticas. O importante é não vislumbrar - assim como uma lembrancinha de maternidade pode não somente a expressão do consumismo e materialismo que cercam os nascimentos, e sim uma forma simpática e simbólica de recordação sobre aquele nascimento tão especial - que não se trata de hornrar cegamente um órgão, porque é moda e porque a fulana é uma riponga doida. E sim uma prática com significados, ora místicos, ora espirituais, ora dos segredos do feminino, e ora de ordem bem prática mesmo: a placenta está lá, existe, vive, pulsa e com os olhos do siginificado, é um órgão belo e cheio de importância. Para muita gente.

Há quem faça essa reverência da forma mais simples, tocando-a, sentindo com as mãos e agradecendo silenciosamente, como uma prece. Há que fotografe e a observe por longos minutos. Há quem guarde no congelador - não desmaiem, por favor, a picanha congelada no nosso freezer nada mais é do que parte da bunda do boi - até que se decida o que fazer com ela.

Muitas culturas ancestrais enterram a placenta, ato repetido ainda na contemporaneidade, enrolada em um cobertor de bebê. Outros escolhem o pé de alguma árvore especial. Mais alguns incineram-a, em rituais de fogo que libertam o "espírito" do bebê. Há ainda quem guarde essas cinzas, e utilize de forma tópica quando o bebê adoece. Existe também, uma das minhas favoritas, a impressão da placenta. Quando você enxergar uma grávida seguida de sua equipe médica carregando um bloco de canson para a sala de parto, pode saber: ela vai fazer impressões da placenta, que podem ser tanto no sangue do ventre quanto coloridas com tintas específicas.

Mas fica o alerta, para todas as práticas de reverência e respeito à placenta, desde as mais singelas até à placentofagia nua e crua, existem recomendações e técnicas específicas, como por exemplo a profundidade do buraco em que ela é enterrada, para evitar mau cheiro. Ou a preparação do papel para estampa. Ou o tempo de permanência no freezer. E no caso dos partos hospitalares, ainda infelizmente, a limitação de cada instituição. A maioria não permite que se leve uma parte de nós mesmas, e de nossos filhos, para casa.


Para Doula Liz

Comecei a sentir aqueles suaves abraços na barriga sábado à noite. Na segunda, na nossa última consulta, já marcando 40 semanas e 4 dias, ainda não tinha dilatação nenhuma. Nossa médica listou todos os procedimentos que poderia fazer caso quiséssemos acelerar o trabalho de parto, mas eu sabia que nossa filha sabia sua hora. Optamos por ir pra casa, aproveitar nossos últimos momentos a sós, brindado com uma carninha beeeemm apimentada!
Já naquela madrugada as contrações ficaram mais fortes, de 15 em 15 minutos, quando o dia amanheceu já contávamos de 8 em 8. Meu Fe acordou comigo a cada concentração, me ajudando a cronometrar a frequência e a intensidade. Lembro com muito carinho daquele momento.
As malinhas prontas, meu marido arrumando a casa, a Lizi e eu conversando, o Spike deitado em meu colo, um carinhoso escalda pés preparado por ela, conversar sentada na grama, tomar café da tarde, pão com manteiga, ao anoitecer ver as velinhas acesas pela casa, receber massagens dela, do meu marido, ajudando nossa filha a nascer, são as melhores lembranças do meu trabalho parto...

A Lizi estava lá, comigo, me tranquilizando e também me conduzindo para um outro nível de autoconhecimento. Ela também representava todas as mulheres que amo e que não podiam estar ali. Ela carregava dentro de si o amor de todas as mulheres que me amam e me nutria deste amor com seus olhos meigos, voz suave e palavras doces, oferecendo-se para me carregar, mesmo eu estando tão mais pesada que ela. Ela perfumou meu momento. Literalmente. Meu trabalho de parto tem cheiro de laranja! Laranja que é estimulante, fresco, renovador.
No hospital sentia sua proteção, tentando amenizar a rigidez e indelicadeza do sistema, procurando fazer meus planos e vontades valerem. Tudo isso ela conduziu madrugada a dentro, ajudando-me e ajudando meu marido a me ajudar.
Lizi amada, faz 2 meses que a Ana Luiza nasceu e eu quero te agradecer mais uma vez e deixar aqui minha homenagem a ti, que fazendo teu trabalho, te tornaste minha 

mãezinha, minha amiga, minha irmã, minha doula.
Te amo
Sara





Picos De Crescimento e Saltos de Desenvolvimento

SOBRE PICOS DE CRESCIMENTO

Afinal, o que significa "Growth Spurt"? Poderíamos traduzir (não literalmente) como PICO DE CRESCIMENTO.
É um fenômeno que ocorre nos bebês e, no qual, estes solicitam mais mamadas do que de costume. Estas necessidades geralmente duram de poucos dias a uma semana, seguido de um retorno ao padrão menor de mamadas.
A mãe costuma sentir como se não desse conta de produzir leite em quantidade suficiente para o Bebê.
Períodos comuns destes "picos de crescimento" ocorrem por volta dos:
7 - 10 dias;
2 - 3 semanas;
4 - 6 semanas;
3 meses;
4 meses;
6 meses;
9 meses (em torno)
Os picos de crescimento não param no primeiro ano. Podem ocorrer no decorrer do crescimento da criança, incluindo, por exemplo, a adolescência.
Quanto mais o bebê mamar = mais leite produzirá no seio. Estimule ambos os lados, esvaziando um lado para que depois passe pro outro seio. Confie em sua produção. Seios murchos não significam menos leite. Boa parte do leite é produzido na hora da mamada. É normal, durante o pico de crescimento, que o bebê mame HORAS seguidas.

SOBRE SALTO DE DESENVOLVIMENTO
Bebês não se desenvolvem em um ritmo constante, e sim irregular.
No período que imediatamente antecede um salto de desenvolvimento o bebê repentinamente pode se sentir disperso às mudanças nos sistemas perceptivo e cognitivo que não foram adaptadas ainda no organismo.
Então na tentativa de readaptação, o bebê volta à base, ou seja, à mãe, o que reflete-se em períodos de maior carência afetiva, pedem mais colo, e com frequência afetam o sono e apetite.
Depois de algumas semanas essa fase difícil é superada, e o bebê demonstra ter habilidades novas.
Uma Cronologia aproximada dos períodos de crise é:
- 5 semanas / 1 mês
- 8 semanas / quase 2 meses
- 12 semanas / quase 3 meses
- 19 semanas / 4 meses e meio
- 26 semanas / 6 meses
- 30 semanas / 7 meses
- 37 semanas / 8 meses e meio
- 46 semanas / quase 11 meses
- 55 semanas / quase 13 meses
- 64 semanas / quase 15 meses
- 75 semanas / 17 meses

Nesse período, é esperado que o bebê:
- Procure ficar mais perto da MÃE, ou seja sua base de tudo, pois é o que ele conhece melhor;
- Fique mais carente, precisando de colo, segurança e orientação maternal de perto;
- Coma mal e durma pior;
- Pode pedir para mamar com mais frequência;
- Comece a fazer coisas que não fazia antes da crise tal como rir, sentar, engatinhar, interagir...
- Demonstre felicidade com o final da crise e superação do desenvolvimento adquirido.

Essa fase difícil passa, e tudo volta a normalidade, na mesma naturalidade que iniciou. Então, durante as crises, é só ter um pouco de paciência, carinho, cumplicidade... que logo logo passa...

Fonte: GVA

De mãe pra filha | Por Sara - Mãe da Ana Luiza e Adriana - Mãe da Sara

Sara - mãe da Ana Luiza e filha da Adriana 

"A Ana Luiza precisa de muito amor para nascer." Com estas palavras, ditas docemente por nossa médica, encontrei a força derradeira para, junto de meu amor, trazer nossa filha ao mundo. E com elas também percebi o grande comprometimento de receber um ser de luz sob nossos cuidados.
Ela queria nascer, mas precisava ter certeza que estaria amparada com amor, esforço e dedicação de todos que outrora haviam a cativado, se responsabilizando em fazer parte de sua jornada quando enfim chegasse a este mundo.
Foram mais de 24 horas de trabalho de parto, batalhando por cada centímetro de dilatação e finalmente, naquele 30 de julho de 2014 nossa princesa nasceu, de parto normal humanizado, com saudáveis 3,6 kg e 50 cm (que sim, representam praticamente 1/3 de mim!).
Penso que se tivesse me faltado qualquer uma das pessoas que lá estavam, eu não teria conseguido.
Nossa doula amada, Liziane Liz, que me acalantava e me passava tanta força e confiança através do seu meigo olhar e procurava de todas as formas tornar aquele ambiente aconchegante e cheio de energia. Ainda sinto o cheirinho energético de laranja!
Minha mãe, Adriana Klein da Rosa, que chegou no meio do caminho para a angustiante tarefa de assistir sua filha dar a luz e com seu nobre coração se pôs a rezar, trazendo para aquela sala mais anjos guerreiros, protetores de longa data para nos guiar com segurança pela experiência mais transformadora de nossas vidas!
Nossa médica, Guísella De Latorre, que me conduziu com muita serenidade e precisão pelo longo trabalho de parto e com seu olhar me transmitia a confiança necessária e dizia em silêncio que eu era capaz.
Meu amor, meu companheiro de vida, Felipe, que me deu suas forças quando as minhas já não existiam e pariu junto comigo, segurando minha mão, em todos os momentos.
Eu. Menina-mulher que a cada contração se tornou mãe e foi forjada por suas próprias forças em uma nova mulher, completa, forte, capaz.
E nossa menina, Ana Luiza. Ana Linda Luiza. Ana Guerreira Luiza. Guerreira da Luz, que já nasceu leoa, posicionada, batalhando bravamente pelo nascimento que merecia.
Uma nova forma de nascer. Uma antiga, muito antiga força mamífera para trazer novas crianças para uma nova Terra. Um planeta com mais de amor, mais de união.




Adriana Klein da Rosa - Mãe da Sara e vó da Ana Luiza:

"Que lindo minha Sara!!! Sou muito feliz pela mulher que és, pela mãe que se transformou e pela filha que sempre foi!!! Colhes neste momento todas as sementes plantadas em tua caminhada, e elas deram frutos lindos e doces, como é teu coração!!!! E vou te dizer, não foi fácil para esta mãe acompanhar tudo, realmente, nunca rezei tanto e exercitei minha Fé!!!! Mas penso que tive a grande oportunidade de curar meu feminino ancestral junto contigo, pois naquele momento percebi que nós mulheres precisamos buscar as alternativas para isso acontecer, e tu minha pequena criança, grande mulher, buscou, busca isso e me ensina e me ajuda a exercer a Força Divina, Feminina, Doce, Amorosa, Guerreira e Sábia!!! E ver teu querido Felipe, do teu lado, te amparando, te dando amor e carinho me faz acreditar que o Masculino e o Feminino são invencíveis juntos numa empreitada nobre!!!! E nossa querida Ana Luiza, ahhhh esta pequena grande Cristal que desde cedo olha no fundo de nossos olhos e mostra enxergar nossa alma!!! Encantador!!! E tenho certeza que vou aprender muito com ela!!!! Grata minha filha, grata pelos ensinamentos, grata pelo carinho e amor!!! Felipe, parabéns pela tua presença linda ao lado de nossas gurias!!! Sara, me honre sendo feliz, eu te honro sendo feliz!!! Amo -te e sou-te grata!!!"





Entrevista com Naolí Vinaver, parteira tradicional e profissional mexicana

“Nós, mulheres, estamos desenhadas para engravidar e parir sem nenhuma dificuldade”



Para Naolí Vinaver, parteira tradicional e profissional mexicana, a maneira como as mulheres estão parindo seus filhos atualmente reflete um tipo de sociedade consumista e capitalista em que a visão da pressa e a rapidez prevalecem sobre a qualidade da vida como experiência primordial

Por: Graziela Wolfart

O movimento pela humanização do parto é definido pela parteira mexicana Naolí Vinaver como “a união e visão humana, tanto intelectual como técnica e profissional, de pessoas de diversas áreas que se importam com a qualidade da atenção recebida pelas mulheres, bebês e famílias durante o processo de parto e nascimento”. Dona de vasta experiência em contribuir para que bebês nasçam de parto natural, Naolí afirma que “na medida em que as mulheres foram levadas para os hospitais e os seguimentos das suas gravidezes e partos começaram a ser acompanhados por homens médicos (na sua vasta maioria), elas foram perdendo a dignidade, o seu direito à integridade física e emocional e, com isso, a sua autonomia de parideiras capazes”. E conclui, em meio a suas respostas enviadas por e-mail à IHU On-Line: “o problema não são as mulheres ‘imperfeitas’ que ‘não sabem parir mais’, mas a cultura do parto que esqueceu da mulher no processo desenfreado por adquirir as mais altas tecnologias sem virar a cabeça para ver que elas não são necessárias na maioria dos casos”.

Naolí Vinaver Lopez é uma parteira mexicana que combina a prática do parto tradicional com um profundo interesse e respeito pela psicologia e a fisiologia do parto. Desde 1987 ela atendeu por volta de 1000 partos domiciliares em sua região (Xalapa, Veracruz, México), além de participar como conferencista em congressos sobre parto em mais de 30 países. Naolí teve três filhos em partos domiciliares acompanhada de sua família, o último dando origem ao vídeo “Dia de Nascimento”.

Confira a entrevista. 

IHU On-Line – O que caracteriza o movimento pela humanização do parto e do nascimento?

Naolí Vinaver – O movimento se caracteriza pela união e visão humana, tanto intelectual como técnica e profissional, de pessoas de diversas áreas que se importam com a qualidade da atenção recebida pelas mulheres, bebês e famílias durante o processo de parto e nascimento. O movimento se importa profundamente com a experiência pessoal, tanto física como emocional das pessoas envolvidas no parto, baseando-se em dados científicos e psicoemocionais que oferecem evidências fortes sobre os efeitos em curto e longo prazo dessas vivências nas pessoas.

IHU On-Line – O que tem motivado a ebulição deste movimento pelo mundo atualmente?

Naolí Vinaver – A motivação em verdade não é nova, o que é novo é a capacidade atual de se comunicar com o crescimento e expansão dos meios de comunicação que possibilita às pessoas a comunicação umas com as outras, dando como resultado uma crescente consciência das similitudes nas experiências vivenciadas. A partir de inúmeros congressos internacionais, de contato entre pessoas de países diversos, de artigos publicados, pesquisas e expressões individuais e de grupo, o movimento tem se desenvolvido com muita força e lucidez, dando frutos e avanços exemplares. Não sem que ainda fique o maior trecho por ser conquistado e as estratégias e mudanças ainda por serem efetuadas.

IHU On-Line – Como o Brasil e a América Latina se posicionam neste contexto?

Naolí Vinaver – Acho que o Brasil e a América Latina não podem ser incluídos na mesma frase. O Brasil é um país que se diferencia dos outros países da América Latina em que as pessoas civis se sentem parte dos órgãos que tomam decisões, quer dizer, que o vínculo e a humanidade que têm as pessoas civis e as pessoas que já trabalham dentro da Secretaria de Saúde, para citar um exemplo, é de uma parceria e comunicação que não se vê em outros países da América Latina, onde geralmente as instituições se caracterizam por uma prepotência muito marcada, que desvincula os seus representantes dos cidadãos comuns. Mesmo assim, tanto o Brasil como a maioria dos países da América Latina têm em comum um índice elevadíssimo de cesáreas e inúmeras intervenções gineco-obstétricas, evidentemente desnecessárias, o que resulta que a mulher nesses países desconheça suas capacidades para parir natural e espontaneamente, e que quem deseja fazê-lo precise lutar com muita veemência e intensidade, como um salmão que nada contra a correnteza. Nesses países, nós que lutamos por um parto mais humano e cálido precisamos uns dos outros para conseguir ter uma voz que seja ouvida. Paradoxalmente, é também por causa de tantas e tantas formas de violência e agressão obstétrica vividas por tantas mulheres e bebês que o movimento encontra-se fortalecido.

IHU On-Line – O que a senhora destaca em relação ao respeito e à integridade física e emocional da mãe, do bebê e da família durante um nascimento?

Naolí Vinaver – O merecimento a parir com respeito à fisiologia e à intimidade da mulher e do bebê nunca deveria ter mudado das épocas em que as mulheres sempre pariam em casa, acompanhadas por parteiras (mulheres com experiência nas artes do bem-parir). Mesmo que se compreenda que, com a evolução da ciência, as mulheres foram levadas das suas casas para parir nos hospitais, o parto não deveria ter deixado de ser considerado um processo natural de vida e de saúde, só precisando em muitos poucos casos da ajuda justa e precisa da medicina “moderna”. Na medida em que as mulheres foram levadas para os hospitais e os seguimentos das suas gravidezes e partos começaram a ser acompanhados por homens médicos (na sua vasta maioria), elas foram perdendo a dignidade, o seu direito à integridade física e emocional e, com isso, a sua autonomia de parideiras capazes.

IHU On-Line – Como a senhora define a mulher-mãe enquanto autoridade em relação à gravidez e ao bebê que gera em seu ventre?

Naolí Vinaver – Nós, mulheres, estamos desenhadas para engravidar e parir sem nenhuma dificuldade. Como tal, somos autoridades nessa experiência e processo de parir e só precisamos de apoio amoroso e paciente para acompanhar o processo. São as parteiras, desde a época da Antiguidade, que acompanhavam as mulheres nesse momento, caso precisassem de ajuda em algum trecho do processo. Geralmente uma mulher não precisa de ajuda, mas sim de respeito, de intimidade e paz para parir de forma espontânea. Quando esses elementos são tirados da mulher, ela começa a encarar algumas dificuldades que têm a ver mais com o entorno e o aculturamento do parto do que com a sua fisiologia. O problema não são as mulheres “imperfeitas” que “não sabem parir mais”, mas a cultura do parto que esqueceu da mulher no processo desenfreado por adquirir as mais altas tecnologias sem virar a cabeça para ver que elas não são necessárias na maioria dos casos.

IHU On-Line – A maneira como as mulheres estão parindo seus filhos atualmente reflete que tipo de sociedade e de cultura?

Naolí Vinaver – A maneira como as mulheres estão parindo seus filhos atualmente reflete um tipo de sociedade consumista e capitalista em que a visão da pressa e a rapidez prevalecem sobre a qualidade da vida como experiência primordial. Uma sociedade que não pergunta nem escuta às suas mulheres deixando-as escolher e dirigir as suas experiências sexuais, de gravidez e de parto, baseando-se nas suas intuições, no instinto primordial como fêmeas parideiras, e com base em informações fidedignas e legítimas, não é uma sociedade avançada. O dia em que a mulher ocupar um lugar precioso como uma doadora de vida poderosa e cheia de sabedoria, dentro de todos os âmbitos – o psicossocial, o econômico e cultural, assim como o político –, essa cultura vai virar um exemplo para a humanidade inteira.

IHU On-Line – O que caracteriza o ofício da parteira e qual a importância que ela tem para a mãe e a família do bebê que chega por suas mãos?

Naolí Vinaver – A parteira é uma companhia experta e solidária para a mulher no seu caminhar pelas paisagens e experiências únicas da gravidez, do parto, do nascimento e na fase de pós-parto dos primeiros anos de vida. A importância dela não pode nem ser calculada. Basta perguntar para qualquer mulher se ela gostaria de receber carinho experiente e segurança durante as suas experiências de gestar, para entender a importância da parteira nas sociedades. E aquelas sociedades que têm perdido o fio da parteira e nas quais as mulheres não lembram nem como era quando outra mulher era a sua acompanhante experiente demonstram só uma triste falta de cultura e bom-senso.

IHU On-Line – Gostaria de acrescentar mais algum comentário sobre o tema?

Naolí Vinaver – Só quero lembrar às pessoas “modernas” que se consideram frutos da alta tecnologia que, inclusive neste minuto em que se lê esta entrevista, a vasta maioria dos seres humanos que estão nascendo chega nas mãos quentinhas e carinhosas das parteiras nos mais diversos cantos do mundo. É bem assim. A maioria dos seres humanos do século, ano, mês e dia atuais ainda nascem fora do hospital nas mãos das parteiras, e a humanidade prolifera de forma saudável. Acho que o ser humano moderno precisa de um toque de humildade e de mais amor para conseguir continuar a nossa caminhada por esta terra. Eu sou uma das muitas mães do mundo o suficientemente afortunadas por ter parido os meus três filhos na minha casa, na companhia amorosa da minha família, e de uma parteira, e isso me dá a maior sensação de felicidade.

Data: 02.07.2012
Fonte: ihuonline

As 50 Intervenções desnecessárias durante a gravidez, parto e pós-parto

1) Exames pré-natais não incluídos na rotina preconizada pelo Ministério da Saúde do Brasil (os exames recomendados são: grupo sanguíneo e fator Rh, sorologia para sífilis – VDRL, hemoglobina e hematócrito para rastreamento de anemia, exame de urina tipo I, sorologia para HIV e hepatite B – AgHBs, glicemia de jejum, teste para toxoplasmose-IgM, colpocitologia oncótica se necessário).

2) Exames de efetividade discutível sem prévia discussão com a gestante sobre riscos e benefícios (p.ex. pesquisa de EGB (Estreptococcus do Grupo B)).

3) Prescrição de complexo vitamínico, sem uma indicação clara.

4) Ultrassonografias sem indicação clínica.

5) Dopplerfluxometria em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

6) Ecodopplercardiografia (exame para avaliar o coração) fetal em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

7) Cardiotocografia em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

8) Teste oral de tolerância à glicose (TOTG) em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

9) Cesariana eletiva sem indicação clínica e/ou sob falsos pretextos (ver lista das “Indicações das
desnecesáreas).

10) Exames de toque antes do trabalho de parto, sem indicação clara.

11) Descolamento de membranas antes de 41 semanas de gravidez.

12) Descolamento de membranas sem prévia discussão e autorização da gestante.

13) Restringir a escolha do local de parto.

14) Desencorajar ou proibir o acompanhante/doula no parto da escolha da mulher, ou permitir a entrada de pessoas não autorizadas.

15) Internação precoce.

16) Exames de toque/remoção de rebordo de colo abusivos durante o trabalho de parto e de rotina.

17) Exames de toque/remoção de rebordo SEM o prévio consentimento da gestante.
  
18) Toque Retal.

19) Jejum, tricotomia (raspagem dos pêlos) e enema (lavagem intestinal).

20) Qualquer restrição à deambulação/liberdade de movimentos.

21) Estabelecer limites rígidos para a duração da fase latente, ativa e do período expulsivo.

22) Atrapalhar o processo fisiológico do parto, desconcentrando a gestante.

23) Monitoração fetal contínua ao invés de intermitente (onde o profissional ausculta o bebê de tempos em tempos com o sonar).

24) Uso rotineiro de soro com ocitocina/indução com misoprostol.

25) Uso rotineiro de analgesia de parto.

26) Oferecer ou insistir na analgesia de parto sem que a mulher a tenha solicitado.

27) Amniotomia de rotina (rompimento da bolsa).

28) Puxos precoces (treinar fazer “a” força, antes que a mulher possa sentir os puxos).

29) Puxos dirigidos (“faça força agora”, “força comprida”, etc).

30) Manobra de Valsalva (orientar a “trincar os dentes e fazer força”).

31) Desestimular a escolha pela mulher da posição/ambiente em que quer parir.

32) Manobra de Kristeller (empurrar o fundo do útero)/pressão de qualquer intensidade no fundo uterino/”só uma ajudinha”.

33) Manobra de “divulsão” perineal e/ou massagem perineal sem consentimento da mulher.
34) Episiotomia.

35) Não permitir o nascimento espontâneo.

36) Aplicar fórceps e vácuo de rotina e/ou sem autorização da mulher.

37) Sutura rotineira das lacerações.

38) Revisão instrumental do canal de parto de rotina (fórceps, vácuo extrator).

39) Cesariana intraparto sem indicação precisa e sem caráter de emergência.

40) Ligadura precoce do cordão, sem aguardar parar de pulsar.

41) Entregar um bebê vigoroso ao neonatologista para secar e aquecer, afastando-o da mãe.

42) Aspiração de rotina das vias aéreas do recém-nascido.

43) Passagem de sonda de rotina no recém-nascido, para pesquisar atresia de coanas, atresia de esôfago e ânus imperfurado.

44) Uso rotineiro de Credé (colírio de nitrato de prata).

45) Levar bebês saudáveis para o berçário.

46) Fazer qualquer procedimento com o RN sem consultar e obter autorização dos pais.

47) Não permitir o delivramento (saída da placenta) espontâneo.

48) Revisão manual da cavidade uterina de rotina, mesmo em casos de cesárea anterior.

49) Oferecer bicos, chupetas, mamadeiras, com leite artificial para o recém-nascido.

50) Aplicar vacinas sem o consentimento e autorização dos pais.

Retirado do site do Núcleo Carioca de Doulas
Por Ingrid Lotfi com supervisão técnica de Melania Amorim e Maíra Libertad

Yoga previne má posição fetal


Duas especialistas neozelandesas em gestação revelaram que os exercícios de yoga são ferramentas eficazes para evitar que o bebê se posicione no útero com o dorso à direita, situação que leva a partos difíceis e demorados e diante da qual a maioria dos médicos acaba optando pela realização da cesariana.

A parteira Jean Sutton e a orientadora pré natal Pauline Scott observaram que, nas últimas décadas, verificava-se um crescimento drástico nos índices de partos com bebês nesta má posição (mais de 50% dos casos) e, após vários estudos, concluíram que isso se deve à má postura da mãe moderna, que passa várias horas diante do computador, dirigindo e assistindo à tevê em sofás bastante confortáveis, sentada com a região lombar projetada para frente (o que fica em contato com o encosto da cadeira ou do sofá é apenas a região dorsal – ou toráxica) e, muitas vezes, com os joelhos elevados acima da região pélvica. E isso sem falar no índice de sedentarismo atual, que é maior e também contribui para o problema.

Sutton e Scott alertam que a gestante precisa ficar muito atenta à sua postura ao longo da gravidez, principalmente nas seis semana que antecedem o parto. Desta maneira, podem levar à condição que elas denominam Optimal Foetal Positioning, que seria a posição fetal perfeita para o nascimento.

O mau posicionamento do bebê ocorre pelo seguinte fato: as costas do bebê correspondem à parte mais pesada do corpo dele; isso significa que, naturalmente, as costas irão procurar a parte mais baixa do abdômen da mãe para se acomodar. Assim, se a região lombar da mãe fica constantemente projetada para frente (elevando de certa forma a barriga), a tendência é que as costas do bebê estejam em contato com a barriga da gestante.

Para reverter este quadro, as especialistas recomendam – entre outras ações – a prática do yoga. O resultado de uma boa postura não ocorre apenas no parto, mas ao longo da vida: as mulheres adquirem uma consciência corporal permanente. E vale lembrar que isso é muito importante não só para assegurar um nascimento mais fácil, como também para a recuperação no pós-parto. Afinal, mulheres que tendem a projetar a lombar para frente costumam ficar, após a chegada do filho, com a barriga saliente, as nádegas para dentro e os seios caídos. É uma questão, portanto, de saúde e de estética.

Separei abaixo uma sequência que gosto muito para a prática das gestantes.


Yoga previne má posição fetal | Estilo de Vida no Andrea Alves Blog

Entendendo o Trabalho de Parto e cada uma das suas fases

Reconheça cada uma das etapas do momento de dar à luz e algumas sugestões para lidar com o desconforto da dor


O sentimento de insegurança ou até o medo do trabalho de parto são muito comuns. Afinal de contas, é uma situação desconhecida e cercada de mitos. Por isso gera tantas dúvidas. A melhor forma de se preparar para um parto ou uma gestação, independente da sua escolha, é buscar informação, conhecer a fisiologia da mulher e o que acontece com o seu corpo no momento do trabalho de parto.
O trabalho de parto é um processo natural e deve ser visto com tranquilidade, já que tudo o que o envolve é essencial para a saúde, o bem estar e o vínculo entre a mãe e seu bebê.

A ocitocina ou hormônio do amor, quando liberada naturalmente pelo nosso corpo tem muitas funções. Além de promover contrações uterinas, ajuda na formação do vínculo entre mãe e bebê.
O trabalho de parto a termo (quando o bebê está pronto para nascer) pode acontecer entre a 37ª e a 42ª semana de gestação e cada mulher passa por uma experiência diferente. “Meu trabalho de parto durou cerca de 8 horas”, conta Anita de Souza, mãe de Sarah, de 3 anos. Mas também pode durar dias ou apenas alguns minutos, como aconteceu no segundo parto de Thielly Soengas Manias, mãe de Miguel, 4 anos, e Marcos, 2.
“Meu segundo parto teve duração total de 34 minutos e a fase mais difícil foi quando apareceram as cãibras no quadril quando ele coroou”, lembra Thielly, sobre o momento em que a cabeça do bebê se posiciona na entrada da vagina e já começa a aparecer. Thielly contou com a ajuda de uma equipe humanizada para encontrar a posição mais confortável para Marcos nascer.
Como o melhor caminho para diminuir a ansiedade a respeito do desconhecido é a preparação através de informações, veremos a seguir um resumo das fases do trabalho. Muitas delas posem ser encontradas, com mais detalhes, no livro "Parto Ativo":
1. Pródromos: são pequenos sinais que mostram que o corpo da mãe e do bebê estão se preparando para o início do trabalho de parto. Essa fase pode demorar semanas e é caracterizada pela presença de contrações uterinas sem ritmo e de intensidade variada.
A gestante pode observar a saída do tampão mucoso, que é uma secreção gelatinosa que fica no colo do útero e pode sair com um pouquinho de sangue. Mas sem motivos de preocupações, que fique claro.
Nessa fase, é comum sentir dor nas costas e no períneo (músculos, tecidos e ligamentos que sustentam os órgãos pélvicos) que podem ser melhoradas com massagem e algumas reboladas sobre a bola suíça (a de pilates), por exemplo.
2. Fase latente: é quando começa o processo de dilatação do colo do útero e as contrações tornam-se regulares, apesar de serem curtas (entre 30 e 60 segundos de duração). Não é necessário sair correndo para o hospital. As dores estão suportáveis e um banho quente pode ajudar a relaxar. Alimente-se e procure descansar para ter forças para as próximas etapas.
3. Fase ativa: aqui, as contrações têm intervalo entre 5 e 3 minutos e duram cerca de 60 segundos. Você pode sentir dor na região lombar e no pé da barriga e verá que começa a ficar complicado pensar e conversar durante as contrações.
Caminhe entre elas e, quando elas aparecerem, agache de cócoras, rebole sobra a bola suíça ou peça massagem na região lombar. Esse é o melhor momento para ir para a maternidade. Lá você pode utilizar o chuveiro ou a banheira para diminuir a intensidade das dores.
4. Transição: essa é a última fase do processo de dilatação do colo do útero. Nela, as contrações são mais longas (podem durar até 90 segundos), intensas e com intervalos menores. Você vai preferir ficar quietinha e pode não querer responder se alguém quiser conversar.
Mas a transição é uma fase curta e a intensidade da dor pode ser amenizada com compressas quentes no pé da barriga e na região lombar, massagens e pressão na cintura. Peça para seu acompanhante colocar uma mão em cada lado do seu quadril e pressioná-lo com força. Nesse momento uma banheira com água morna também pode ajudar muito. É na transição que a gestante que optar pela anestesia poderá solicitá-la. 
5. Expulsivo: as dores intensas e frequentes desaparecem e as contrações surgem com intervalos maiores e trazem uma vontade intensa de fazer força. Encontre a posição que achar mais confortável para permanecer nessa fase, que pode durar até 3 horas. É nesse momento que o bebê coroa e começa a sair pela vagina. Nessa hora você pode sentir o chamado “círculo de fogo”, uma sensação de ardência na vagina que logo cessa. 
Faça força apenas quando sentir vontade e com calma para não lacerar seu períneo.
6. Dequitação da placenta: seu bebê já nasceu e deve estar no seu colo, recebendo o seu calor enquanto vocês se apaixonam em uma linda troca de olhares. Mas ainda é necessário esperar a placenta sair naturalmente (tracioná-la com as mãos não é indicado, pois alguns pedaços podem ficar dentro do útero, precisando de curetagem para retirá-los) e isso acontece entre 5 e 30 minutos depois do nascimento do bebê. Você poderá voltar a sentir algumas contrações para eliminá-la.
Uma ótima forma de ajudar na saída da placenta é iniciar a primeira mamada do bebê, para que seu corpo produza mais ocitocina e promova essa expulsão natural. No fim, o obstetra verifica o seu períneo para checar a necessidade de sutura no caso de alguma pequena laceração.