PARTO NORMAL X HUMANIZADO
A expressão se
popularizou, mas muita gente ainda não sabe o que é, afinal de contas, um parto
humanizado.
Um ambiente
acolhedor, com pouca luz e música suave, para deixar a mulher mais à vontade
durante o trabalho de parto. Para muita gente, é isso o que diferencia um parto
humanizado de um parto normal hospitalar padrão.
Quando se fala em
humanização da assistência ao parto, porém, há muito mais coisas em jogo do que
a beleza das instalações e a gentileza no trato com as parturientes. Envolve
também uma mudança de atitude: respeitar os desejos das mulheres.
“Existem dois tipos
de humanismo: o que eu chamo de humanismo superficial, no qual o quarto é
bonito e a mãe é tratada de maneira amável, mas a taxa de intervenções não
diminui, e o que eu chamo de humanismo profundo no qual a profunda fisiologia
do nascimento é honrada”, observa a antropóloga norte-americana Robbie
Davis-Floyd num artigo publicado pela revista Midwifery Today em
2007.
Mas a que
intervenções exatamente ela se refere? Os procedimentos hospitalares realizados
rotineiramente durante o parto são necessários para ajudar no processo natural,
de modo a garantir a manutenção da saúde da mãe e do bebê, certo?
Errado. Essa é a
primeira questão difícil de compreender: pesquisas científicas mostram que
muitas das intervenções médicas praticadas atualmente no parto normal são, na
verdade, desnecessárias e prejudiciais. No entanto, continuam sendo feitas. Por
quê? Boa pergunta…
O uso rotineiro de
enema (lavagem intestinal), de raspagem dos pelos púbicos, de infusão
intravenosa (soro) e da posição supina (mulher deitada de barriga para cima)
durante o trabalho de parto estão entre as condutas consideradas claramente
prejudiciais ou ineficazes e que deveriam ser eliminadas, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS). Apesar disso, fazem parte do protocolo de assistência
de muitos hospitais e maternidades, sendo realizadas todos os dias, de forma
indiscriminada.
O mesmo vale para
os procedimentos com o recém-nascido: na maioria dos hospitais, logo após o
nascimento, os bebês têm as vias aéreas aspiradas pelo pediatra com o uso de
sonda, mesmo aqueles que nascem saudáveis e que seriam capazes de eliminar por
conta própria as secreções. Por outro lado, o contato pele a pele com a mãe,
fundamental para o estabelecimento do vínculo, e a amamentação na primeira hora
de vida, preconizada pela OMS, muitas vezes não são priorizados pela equipe.
No parto
humanizado, por outro lado, nenhum procedimento é rotineiro: as intervenções
são feitas de forma criteriosa e apenas quando realmente necessário.
A segunda questão
complexa diz respeito à participação de cada um dos atores na cena do parto. Em
nossa cultura, quem costuma ocupar o papel principal é o médico, que “estudou
para isso”, como se ouve muito por aí. Nessa visão, cabe à mulher uma posição
passiva. A última palavra é do profissional, pois o parto é um “ato médico”.
O movimento de
humanização do parto, que cresce em várias partes do mundo, tem uma visão
diferente: a mulher é protagonista do próprio parto e deve participar
ativamente das decisões, em parceria com os profissionais que lhe dão
assistência.
No parto
humanizado, a mulher é incentivada a se informar e a fazer suas próprias
escolhas. Seus desejos são acolhidos e respeitados.
Veja no quadro
abaixo algumas das principais diferenças entre o parto normal hospitalar padrão
e o parto humanizado.
Normal
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Humanizado
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Pré-natal
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Em geral, limita-se a avaliar a saúde física da mulher e do bebê.
Aspectos emocionais da gestação ficam em segundo plano. Fala-se pouco de
parto.
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Avalia a saúde física da mulher, incluindo todos os exames
recomendados pela OMS, e também dá grande ênfase ao preparo emocional da
mulher para o parto e a maternidade.
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Início do trabalho de parto
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Dificilmente permite-se que a gestação ultrapasse 40 semanas. Quando
atinge esse “limite”, a mulher é internada para a indução do parto com
medicamentos ou vai para a cesárea porque “passou da data”.
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Costuma ser espontâneo, ainda que o tempo de gestação ultrapasse as 40
semanas (com consultas e exames mais frequentes após 41 semanas).
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Ruptura da bolsa
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Em geral é provocada pelo médico, com uma espécie de agulha, para
acelerar o trabalho de parto.
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Costuma acontecer naturalmente, de forma espontânea, ao longo do
trabalho de parto.
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Duração do trabalho de parto
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É acelerada com ocitocina sintética (hormônio), que intensifica as
contrações.
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Respeita-se o ritmo natural do nascimento, que varia muito de um parto
para o outro.
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Posição durante o trabalho de parto
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Deitada na cama, de barriga para cima. Um cinta presa na barriga da
mulher e ligada a um aparelho (cardiotocografia) monitora as contrações e os
batimentos cardíacos do bebê.
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A mulher tem liberdade para escolher e alternar posições. Pode sentar
na bola de parto, deitar na banheira, ficar de quatro sobre cama, acocorar-se
nas contrações...
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Anestesia
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No atendimento particular, é um procedimento de rotina (para todas as
mulheres, ao atingirem um determinado estágio de dilatação). No serviço
público, não está disponível tão facilmente.
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É uma escolha da mulher, que é incentivada a dar preferência a métodos
naturais de alívio da dor, como massagens, banhos mornos e o suporte físico e
emocional de uma doula (acompanhante de parto). Quando a mulher decide pelo
alívio medicamentoso, é feita uma analgesia, que tira a dor, mas não os
movimentos.
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Local
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Hospital (sala de parto ou centro cirúrgico).
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Hospital (suíte de parto normal, com chuveiro, banheira e bola de
parto), em casa de partos ou em casa (apenas para gestantes de baixo risco).
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Episiotomia (corte no períneo)
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Procedimento de rotina, feito em praticamente todos os partos normais.
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Realizada raramente, apenas se absolutamente necessário.
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Contato com o bebê após o nascimento
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O cordão umbilical é cortado imediatamente, o bebê é mostrado para a
mãe e levado pelo pediatra para uma série de exames e intervenções, como a
aspiração das vias aéreas superiores e a aplicação de colírio de nitrato de
prata.
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Se o bebê nasce bem (o que é o caso da maioria), a prioridade do
pediatra é garantir o contato pele a pele do recém-nascido com a mãe. O bebê
é apenas enxugado e coberto com panos macios, no colo da mãe. São oferecidas
todas as condições para que ocorra a amamentação na primeira hora de vida. A
aspiração é feita apenas se for realmente necessário. O cordão é cortado só
depois que para de pulsar.
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Participação da mulher
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A gestante tem uma posição passiva diante do processo do parto. É
considerada uma “paciente” e, como tal, é esperado que aceite as decisões do
médico, que é quem está de fato no comando da situação.
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Compartilha a tomada de decisões com a equipe responsável pela
assistência ao parto, que pode contar com médico ou parteira (enfermeira
obstetra ou obstetriz). No segundo caso, o obstetra fica na retaguarda e é
acionado apenas se necessário.
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Autor: Por Luciana Benatti
Fonte: Casa Moara
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